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quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Educadora nota 10

Gente:
Minha biografia profissional foi publicada no site do Jornal O GLOBO, Educação Nota 10. Prestigiem! Acessem e comentem no site!
Desafios da educação, meu legado profissional
Comecei no magistério ainda menina, aos 14 anos de idade. Hoje em dia, é comum falar em voluntariado, porém, em 1976, eu já me encantava por exercer este digníssimo ofício. O Movimento Brasileiro de Alfabetização (Mobral) estava no auge e eu me ofereci para alfabetizar os adultos da comunidade em que morava. Consegui um espaço na Escola Municipal Coelho Neto – onde minha mãe trabalhou como merendeira – que oferecia o Ensino Supletivo para alunos da 1ª série em diante. Como não havia turma de alfabetização e a procura era grande, a diretora na época me deu esta oportunidade. Recebia uma pequena ajuda de custo, mas nada compensava mais do que o prazer de ajudar donas de casa, idosos e até pessoas com deficiência (dei aula para um rapaz com problemas de audição e de fala).
No início dos anos 80, ingressei no magistério público. Os jovens saíam do período da ditadura e iam à luta clamando por eleições diretas. As escolas ainda não contavam com o aparato da informatização e os ricos recursos de que dispõe agora, mas era um espaço de transformação e crescimento, o que me excitava muito. Comecei dando aulas na Zona Oeste do Rio e paralelamente, lecionava também na rede estadual, onde comecei trabalhando com jovens e adultos, o que me proporcionou o contato com pessoas excluídas do sistema regular por estarem com defasagem de série e idade.
Devido a minha experiência no Ensino Supletivo, sentia facilidade em resgatar e promover a reintegração de crianças e adolescentes que estavam à margem do processo educativo por alguma deficiência de aprendizagem. Estas crianças geralmente eram rotuladas como indisciplinadas, porque destoavam do resto da turma em relação ao rendimento, aos gostos e interesses e à faixa etária – e, muitas vezes, diagnosticadas como crianças com comprometimento neurológico ou mental, por terem um ritmo de aprendizagem diferente dos demais.
Hábitos e atitudes que seriam perfeitamente normais dentro de um determinado grupo eram confundidos com indisciplina e falta de concentração. Sentia muita atração por trabalhar com essas crianças que ficavam alijadas no fundo da sala, excluídas do sistema. Sentia que era esta minha missão, o desafio que queria abraçar.
Passei a fazer parte de vários projetos de resgate e de recuperação destes alunos. O primeiro projeto deste tipo desenvolvido pela Prefeitura do Rio foi o de alfabetização de crianças com 8 anos ou mais, que previa uma permanência de 6 horas na escola. Durante 4 horas e meia, as aulas eram ministradas no Núcleo Comum – no restante do horário, as atividades eram livres.
Eu aproveitava este horário para explorar diferentes aptidões. Promovia a contação de histórias e o contato com a literatura nacional e infantil, dramatização e desenvolvimento da expressão oral e escrita. Trabalhava também música, canto e atividades de expressão com o corpo – dança, mímica, atividades artísticas, recorte e colagem, desenho, pintura e trabalhos manuais.
Esta experiência me permitiu observar que, quando há integração e trabalho solidário, a aprendizagem ajuda a resgatar no aluno o prazer de estudar, proporcionando dentro da escola situações de interação e o desenvolvimento de múltiplas potencialidades.
Depois trabalhei com a alfabetização de crianças com mais de 11 anos. Este projeto tinha muitas capacitações e materiais e, através desta experiência, pude perceber que um dos fatores de mudança e recuperação passa pela capacitação profissional do educador e o oferecimento de recursos facilitadores da aprendizagem.
A experiência seguinte foi com o Projeto da Aceleração da Aprendizagem, riquíssima. Havia materiais muito interessantes, formados por módulos, em que os alunos recebiam noções variadas, tinham contato com textos e experiências que não os limitavam, apesar de ser destinado àqueles que ainda não sabiam ler ou escrever. Nos textos, os alunos eram expostos a situações de investigação, reflexão, debate e valorização da identidade.
Uma das primeiras tarefas era o aprendizado sobre a certidão do nascimento e a importância do nome. Era o início da ‘febre’ do construtivismo. Fiquei fascinada pelo contato com este tipo de aprendizagem que não começa do “bê-á-bá”, mas que estimulava o aluno a aflorar seu potencial. Havia alunos que chegaram à adolescência sem ler e escrever, mas, no final do ano, já estavam construindo textos e opinando sobre diferentes situações, interagindo com o mundo.
Trabalhei posteriormente em projetos da mesma linha do Acelera, como a Progressão I e Progressão II, e enfrentamos preconceito até dos próprios colegas, que entendiam o construtivismo como uma forma de empurrar o aluno e facilitar sem critério, fora a aversão que sentiam por estas turmas que concentrava um grande número dos alunos excluídos e rejeitados pelo sistema. Até mesmo a liberdade de dinamizar as aulas, sem o limite das grades curriculares de cada série, causava polêmica entre os pares das escolas. Mas conseguimos provar que é possível fazer a diferença, quando se acredita em algo. Estes alunos foram integrados às turmas comuns e recebiam elogios, em função do comprometimento e do prazer em estudar e aprender.
Em 2005, após 23 anos de magistério, o desgaste pelo uso excessivo da voz me causou um problema fisiológico nas cordas vocais. Fui afastada das salas de aula a contragosto e passei a trabalhar na secretaria de uma escola que, por ironia do destino, trabalhava com educação infantil, único segmento com o qual eu nunca havia tido experiência. Recuperada do problema na voz, fui convidada para ser diretora-adjunta da escola e pude contemplar a magia do trabalho com esta faixa etária.
Hoje, participo da construção do projeto político-pedagógico desta escola, como parte da equipe gestora no gerenciamento das atividades do grupo, dos recursos para implementação dos projetos, da elaboração dos cardápios, planejamento de atividades e toda dinâmica do trabalho com a Educação Infantil. Passei a me relacionar com a administração e a gestão de recursos e de pessoal, que aumentaram minha experiência e hoje complementam o fazer pedagógico.
Por isto tudo, sinto-me uma profissional completa – conheço a fundo a rotina de sala de aula e a administração de uma escola. Este é o meu legado para a Educação: a dedicação de uma vida inteira a serviço do ensino de qualidade, sem ter esmorecido diante dos desafios. Termino com uma frase célebre de Franklin Roosevelt: “De longe, o maior prêmio que a vida oferece é a chance de trabalhar muito e se dedicar a algo que valha a pena”.
Rita Lusié Coelho Velozo

Um comentário:

  1. Que legal! Estou famosa,rs...Biografia no Globo On line e no site mais bacana de Cabo Frio também!É muito bom poder contar com espaços de incentivo,divulgação e valorização da cultura e da educação.Parabéns também pelo seu blog. Está muito rico e interessante.Cabo Frio por si só já é uma festa em forma de cidade, então nada mais merecido do que uma pessoa competente para narrar o seu cotidiano. Abraços para você e para todos cabofrienses!

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