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quarta-feira, 6 de julho de 2011

Já na nona edição, quando Cabo Frio terá sua primeira edição?

Uma das falas mais esperadas desta Flip é a do crítico Antonio Candido, que fará a conferência de abertura às 19h desta quarta-feira: Oswald de Andrade: devoração e mobilidade junto com seu “filho intelectual” José Miguel Wisnik. Embora não aparente, Candido está prestes a completar 93 anos. Apesar de sua disposição, o curador da Flip, Manuel da Costa Pinto, tinha receio de que ele cancelasse de última hora – o medo não se concretizou, e nesta terça-feira, 5 de julho, às 14h, Candido saiu de São Paulo rumo a Paraty.

A princípio, o Professor não falaria com a imprensa e todo cuidado quando se referia a ele era pouco. Mas na manhã de hoje, dia de abertura da 9a. Flip, um dos maiores críticos literários em atividade no país decidiu falar com a imprensa. “Ora, pensei melhor, olhei todos os jornalistas que gostariam de falar comigo e resolvi atender… Vocês estão aqui a trabalho, então por que não falar?” afirmou o crítico, apesar de toda sua ressalva com estes encontros. “Prefiro dar entrevistas por escrito. A chance de saírem coisas distorcidas é menor. Mas o que eu falei e o que vocês vão publicar já foge do meu controle”.

O cuidado do curador foi confirmado pelo professor na coletiva. “Eu disse para o Manuel e para Marília, filha de Oswald de Andrade, que se eu tivesse qualquer problema de saúde eu não poderia vir. Mas aprendi meu limite depois de ontem. Não posso mais viajar de carro”.

O senhor Antonio Candido é um homem de seu tempo. Sentado em uma cadeira de madeira, ele atendeu com muita simpatia e uma educação rara nos dias de hoje os 35 jornalistas que tiveram a sorte de ouví-lo discorrer sobre crítica literária e um pouco do que falará sobre a sua amizade com Oswald de Andrade. “Eu tive muita sorte. Comecei como crítico aos 24 anos de idade em um grande jornal de São Paulo e tive que analisar livros de pessoas até então desconhecidas como Clarice Lispector.” Quando indagado sobre política, foi categórico: “Vim aqui falar de literatura. Sou Cândido mas não cedo a provocações,” gerando risos dos presentes. Mostrou ainda um bom senso de humor: “Não contem para ninguém, mas uso máquina de escrever. Às vezes me pedem meu email, fax… eu não sei o que é isso! Sou um homem encalhado no tempo. Uso bigode enquanto os homens de hoje usam barba”.
Walter Craveiro


Sobre a fala na programação oficial, apenas contou uma das histórias que prometem fascinar o público presente esta noite. Disse que sentia que era muito gostado por Oswald de Andrade e que o sentimento era confortante. “Oswald era um adversário terrível mas tinha uma qualidade rara: não guardava rancor. Em uma semana ele dizia para certa pessoa – você tem barba amarela, cara de bobo, etc e tal… Mas logo na semana seguinte já estava chamando o companheiro para um chopp. Ele explodia na hora, mas depois passava. Eu não tinha medo, por isso fiz algumas críticas. Considero Marco Zero um trabalho ruim. Existem outros muito melhores”, encerrou o grande crítico que ainda atendeu a pedido de fotografias. Na conferência de abertura, Candido falará sobre a visão do seu tempo sobre Oswald de Andrade e José Miguel Wisnik sobre a visão dos tempos modernos sobre o homenageado.

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