Músicos como Lulu Santos, Pedro Sá e Davi Moraes falam de sua veneração por Eric Clapton, que toca hoje e amanhã no Rio
RIO - Paula Toller já cantou: "solos de guitarra não vão me conquistar" - talvez porque não eram de Eric Clapton. Há quase cinco décadas, o músico inglês encarna um dos mais clássicos papéis da mitologia do rock, e que virou até sinônimo de videogame: o herói da guitarra, o guitar hero, aquele que todos querem desafiar ou imitar. Para os que preferem apenas admirar uma figura de tamanha estatura, com um currículo invejável, que passa por Beatles, Jimi Hendrix e Bob Marley, hoje a noite. Clapton volta ao Brasil depois de dez anos - seu último show no Rio foi na Praça da Apoteose, em 2001 - e se apresenta na HSBC Arena, na Barra, para divulgar seu mais recente disco, "Clapton", de 2010.
Como as recentes apresentações aqui de Paul McCartney e Stevie Wonder, trata-se de um momento especial, de contemplação de um artista fora de série, que sobreviveu às barreiras do tempo e da história, além daquelas que a vida colocou no seu caminho (vícios diversos, perda do filho). O único muro que não conseguiu pôr abaixo foi aquele que o consagrou, com a lendária pichação na Londres dos anos 1960, que assegurava: "Clapton is God" ("Clapton é Deus").
- É um daqueles artistas que parecem não existir mais. É difícil imaginar alguém chegando aos 50 anos de carreira, intacto e com um repertório desse calibre - diz o fotógrafo, DJ e radialista Maurício Valladares.
Pelo que tem apresentado na turnê, Clapton deve mostrar clássicos do seu repertório, como sempre fortemente calcado no blues, como "Key to the highway" e "Crossroads" (do seu maior ídolo, o bluesman Robert Johnson), além de farta porção acústica, incluindo "Lay down sally", "Badge", "Cocaine" e a balada "Wonderful tonight". Confirmado este setlist, ele ficará mais perto da branda apresentação de 2001 do que do elétrico e inesquecível show de 1990, quando esteve no Rio pela primeira vez - também na Apoteose, com abertura de Lulu Santos.
- Era Lua cheia, com a Apoteose lotada, foi realmente sensacional - recorda Lulu Santos. Quem viveu, há de lembrar.
De fato, não é fácil esquecer Eric Clapton depois de ouvi-lo tocar. A apaixonada escrita nos muros londrinos comprova. Eram tempos em que a Inglaterra se enamorava do blues americano e Clapton - ironicamente apelidado de "slowhand" - era o incendiário guitarrista de grupos como Yardbirds (no qual foi substituído por Jeff Beck e Jimmy Page) e Bluesbreakers (de John Mayall).
- Sou louco pelo Hendrix, mas o Eric Clapton é espetacular, principalmente nessa fase - diz Fernando Vidal, guitarrista de Fernanda Abreu e Seu Jorge.
Esse período se encerraria com sua participação no explosivo e psicodélico Cream, uma usina de força conduzida também por Jack Bruce (baixo) e Ginger Baker (bateria), três virtuosos em momento indomável.
- Escutei bastante a fase dele com os Bluesbreakers, com todo aquele blues pesado - conta o guitarrista Pedro Sá. - E o Cream também era sinistro, bom demais.
Em 1968, ano em que o Cream acabou, Clapton fez, em "While my guitar gently weeps", dos Beatles, o que muitos consideram um dos mais arrepiantes solos da História. O excessivo culto à sua figura, porém, foi demais para sua personalidade pacata. Atormentado com isso e já envolvido com drogas (heroína, em particular), tentou se esconder atrás do Blind Faith, supergrupo que tinha também Stevie Winwood e o próprio Ginger Baker. O Blind Faith lançou apenas um disco, homônimo, em 1969.
O auge da carreira de Clapton seria também o seu momento de maior angústia. Apaixonado por Patty Boyd, mulher de seu melhor amigo, George Harrison, ele mergulhou mais fundo nas drogas, ironicamente gravando o ensolarado "Layla and other assorted love songs", ao lado de outra virtuose, o guitarrista Duane Allman, dos Allman Brothers. Nos créditos, mais um disfarce: Derek and The Dominos.
- Esse disco é o máximo, um dos meus prediletos em todos os tempos - diz o músico Max de Castro.
Da posterior carreira solo, tão rica quando irregular, destaca-se "461 Ocean Boulevard", de 1976, no qual Clapton gravou "I shot the sheriff", do então pouco conhecido Bob Marley.
- Eu me arrisco a dizer que gosto mais da versão do Eric Clapton do que da do Bob Marley - garante o músico e compositor Max Vianna.
São marcos também o disco ao vivo "Just another night" (de 1980) e o acústico "Unplugged" (1992), no qual tentou, com "Tears in heaven", superar a dor da perda do filho Conor, que morreu após cair de um prédio de 53 andares em Nova York.
- Eu tentava tocar esse disco todinho quando estava no colégio - lembra Davi Moraes. - Acho o Clapton fantástico,um guitarrista elegante, de poucas notas, que toca mais do que muito exibicionista por aí. Não perco esse show por nada.
fonte: oglobo
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