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segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Em defesa dos direitos dos idosos.



Editorial


Terceira Idade:

Por que devemos protegê-la.

Ser idoso no Brasil definitivamente não é fácil. Vejam vocês, depois de muita luta os nossos idosos veem aprovado o seu Estatuto, Lei 10.741 e eis que mais do que de repente essa conquista está quase indo por água abaixo porque a Fifa, instituição centenária que comanda o futebol mundial e, pasmem, dirigida por sisudos senhores, quer simplesmente acabar com o direito de nossos idosos de terem um pouco de lazer. Não podemos esquecer que a Copa do Mundo de 2014, que será realizada em nosso País, vai nos custar a bagatela de mais de 23 bilhões, dinheiro meu, seu e de nossos idosos. Mas, pior que os senhores de fraque da Fifa quererem usurpar um direito de nossos idosos é essa opinião ser corroborada por pessoas que deveriam ser mais informadas.

Outro dia, em um programa de TV, horário nobre, pessoas altamente qualificadas, as chamadas formadoras de opinião, discutindo sobre a questão da meia-entrada para idosos, estudantes e outros segmentos da sociedade, veio à baila a questão do idoso. A apresentadora, ou mediadora como modernamente é chamada, faz um comentário: “ Idoso aos sessenta anos, isso é um absurdo. Canso de ver gente com sessenta anos esbanjando saúde, por ai, já aposentados, curtindo a vida, por que eles tem que ter esses privilégios?" Os outros debatedores aquiesceram e a discussão terminou ali. Fiquei eu também um pouco inseguro com aquela afirmativa: por que as pessoas com sessenta anos devem gozar de privilégios tipo meia-entrada em espetáculos culturais, gratuidade nos transportes públicos, aos 65 anos, preferências em estabelecimentos comerciais, ou seja , uma série de cuidados da sociedade? Pensei um pouco e não levei muito tempo para vir em minha mente um arrazoado de motivos para que vejamos a terceira Idade despido de qualquer tipo   de  revanchismo preconceituoso. Os nosso idosos não nasceram aos 60 anos. Eles já foram crianças, adolescentes e adultos. Capitalistamente falando, já deram sua cota de trabalho para edificação da sociedade brasileira. Sabemos quão sacrificante é a vida do trabalhador brasileiro. Neste ponto é de bom alvitre(alvitre sei que não é moderno) traçarmos uma comparação entre a imensa massa de trabalhadores daqueles mais aquinhoados pela sorte ou por um bom berço, exemplificando o sujeito ao qual se referiu a nossa mediadora, na introdução deste texto. A questão é qualitativa e quantitativa: milhões de trabalhadores se apertando em conduções precárias, como trens,metrôs, ônibus, vans e tantos outros contra uma parcela ínfima de trabalhadores que possuem salário, renda e carros confortáveis. Seguindo essa linha de raciocínio, vamos encontrar essa massa de trabalhadores sofrendo em chãos de fábrica insalubres, em pé por mais de nove horas em comércios impúberes, esse que ainda tiveram a sorte de se abrigar sob uma carteira de trabalho, mesmo porque uma imensa parcela vive e sobrevive à margem dos direitos trabalhistas e previdenciários brasileiro. Vale dar uma pincelada neste mesmo trabalhador e sua odisseia para conquistar um diploma, seja de nível médio ou superior, na sua guerra diária que começa muitas das vezes às 5 da matina e só vai poder descansar por volta da meia-noite. Neste contexto devemos incluir os aspectos mais cruéis da vida urbana, as grandes cidades com suas mazelas (poluição, engarrafamentos eternos, violência extrema e neuroses mil) e despreparo para proporcionar uma vida razoavelmente confortável para os cidadãos.

Neste contexto tumultuado, os sistemas de produção começam a sofrer colapsos e ao mesmo tempo o mercado de trabalho vai se despindo das calças compridas e paulatinamente começa a usar saias, batom e sapatos salto 10. A mulher começa sua luta por um lugar ao sol. Só que esse pequeno lugar precisa ser arduamente conquistado e paira sobre ele o neoliberalismo e sua desmedida abertura de mercados que vai trazer perda de empregos em excesso, gerando condições de trabalho mais precárias e aviltantes. Nesta conjuntura a mulher precisa competir com o homem e precisa aprender a sobreviver. Nas décadas de 80 e 90 a mulher cresce no mercado de trabalho, dobrando sua participação. Mas mesmo assim seu trabalho é visto como algo complementar e não imprescindível para a sociedade. Ledo engano,hoje sabemos que o trabalho da mulher se tornou a viga central de inúmeras famílias do Brasil, inclusive a própria legislação já se atualizou em relação a este fator, reconhecendo nela o papel de chefe de família. A panela esquenta, mas a economia patina em números nada razoáveis. O homem vê seu emprego minguar, a mulher continua ganhando menos e o jogo da vida segue seu curso desgastante. Mas não devemos perder o rumo do pensamento, aos trancos e barrancos o Brasil continua sendo a 8ª economia e recentemente o seu mercado interno deu demonstração de pujança. Enquanto baluartes da economia ruíam, o Brasil segue em frente, gerando riquezas.

 A nossa terceira Idade, seja ela personificada em pai, mãe, tio, tia, avó, avô é a pessoa de direito que vai emergir dessa panaceia. E quando ela acha que vai ser recompensada por sua bravura, sapiência e experiência, e por ter conseguido se manter viva, eis que ele ouve: coitado, tá velho.Mas não para por aí não. Quase que automaticamente ele vai sendo esquecido, igual a um objeto que perde funcionalidade e viço. Alijado do processo decisório da família, esse homem ou mulher vai sendo enterrado vivo dia-a-dia. Frise-se que esse processo é cultural e está arraigado na sociedade brasileira de forma sólida, fincado nos corações e mentes de todos.Será que os idosos do Brasil tem que necessariamente morrer antes do tempo? Eu tenho certeza que não, e graças a Deus há uma legião de pessoas abnegadas lutando para reverter esse quadro, e as vitórias tem sido poucas, porém consistentes. O estatuto do idoso é demonstração inequívoca do que falo, com seus 118 artigos, dando forma a uma ambição já demonstrada na Constituição Cidadã, de 1988 que previa o envelhecer digno dos nossos idosos. O problema é que o Brasil dentro de sua maneira de ser não muito republicana é um país onde tem leis que pegam e leis que não pegam. O Estatuto do idoso tinha a sina de estar no segundo caso: as leis que não pegam, só que a luta de alguns está conseguindo reverter essa situação. Queremos, eu humildemente me incluo nesta luta, muito mais. Queremos políticas públicas de atenção ao idoso de forma mais consistente e profissional na área da educação, como por exemplo a inclusão nos currículos escolares de disciplinas que abordem  o processo de envelhecimento, a desmistificação da senescência, como sendo diferente  de doença ou de incapacidade e formação de profissionais preparados para atuar de forma técnica e capaz na prevenção e cura da doenças da terceira idade. Na área da previdência social é necessário rever os cálculos atuariais das aposentadorias e pensões. O idoso precisa de uma aposentadoria justa e condizente com seu bem estar. No Sistema Único de Assistência Socialmuitas demandas precisam se equalizadas, tais como o reconhecimento do risco social da pessoa idosa como fator determinante de sua condição de saúde e implantação de politica de atenção integral aos idosos residentes em Instituições de Longa Permanência, entre outras coisas. Quando se fala de Trabalho e Emprego precisamos preparar as pessoas para a aposentadoria, evitar a discriminação do idoso no mercado de trabalho e procederaidentificação dos aposentados que retornaram ao mercado de trabalho e em que condições eles estão atuando. Quanto ao setor de transporte, precisamos facilitar o deslocamento da pessoa idosa, sobretudo os que apresentam dificuldades de locomoção. As cidades precisam deixar de ser tão agressivas para os idosos e portadores de deficiência. Esporte e lazer, assunto que abre este artigo, é de vital importância, precisamos estabelecer programas de atividades físicas e recreativas, fundamentais para saúde física e mental do idoso. Os estudos na área de geriatria e gerontologia precisam receber mais verbas e atenção das autoridades governamentais. Agora, o mais importante é não isolarmos o idoso. Não devemos esquecer que o idoso nada mais é do que nosso pai, mãe, tia, tio, avó, avô, ou seja, um ente querido. Ele precisa estar na sala de estar e não enfurnado em um quartinho qualquer. Imitemos outros povos, como por exemplo, os orientais, que elevam o idoso a condição de líder de sua sociedade, ou então os indígenas que os mantêm no Conselho Máximo da tribo. Também é importante estar atento a seguinte situação: se tivermos sorte e inteligência, um dia seremos idosos também.
Sérgio Aguiar - Jornalista

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