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quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Elis Regina: um mito que nos deixou há trinta anos.


Ela não só cantava, mas expressava toda a alma na música. Dona de interpretações passionais, Elis Regina (1945-1982) impressiona até hoje, quando se completam os 30 anos de sua morte prematura, que teria sido causada por intoxicação combinada de álcool e cocaína.

Em 19 de janeiro de 1982, a notícia chocava o País: a Pimentinha era encontrada morta no apartamento que ocupava nos Jardins, em São Paulo. No auge da carreira, planejando a gravação de um disco, a cantora deixou três filhos como frutos de sua paixão pela música: João Marcelo Bôscoli, Pedro Mariano e Maria Rita.

Elis se consagrou como uma das maiores intérpretes da música brasileira por soltar a voz excepcionalmente poderosa enquanto a maioria cantava ‘baixinho' à la João Gilberto. "Elis rompeu com uma interpretação mais contida, mais para dentro, como todos faziam durante a bossa nova. Com "Arrastão", soltou a voz e o corpo para, juntos, produzirem uma explosão", analisa a jornalista Regina Echeverria, autora do livro "Furacão Elis".

Como se já não bastasse, a intérprete também se notabilizou por revelar nomes que se tornariam referências no cenário como Milton Nascimento e João Bosco, que sempre compunham para Elis, tida como parâmetro de qualidade e ousadia. "Elis deu sorte de ter nascido em geração bastante talentosa, que a escolheu como porta-voz de suas produções", afirma Regina. Mesmo que as composições não fossem gravadas, a possibilidade já bastava para que os artistas mantivessem o nível de suas letras.

A novidade era combustível para a cantora, que lançou quase 30 álbuns durante os 18 anos de carreira. Era comum gravar trabalhos em pouco tempo, como o disco "Falso Brilhante" (1976), feito em dois dias.

GRANDES MOMENTOS - Nascida em Porto Alegre, a intérprete - filha de lavadeira e operário - começou a carreira ainda adolescente, cantando em rádios. Chegou a São Paulo em 1964, aos 19 anos, após tentar a sorte no Rio. E foi assim que o Brasil inteiro teve o prazer de conhecê-la.

Em 1965, venceu o 1º Festival de Música Popular Brasileira (realizado pela TV Excelsior) com a música "Arrastão", de Edu Lobo e Vinicius de Moraes. "Na época, recebeu o apelido de Hélice Regina porque, ao defender "Arrastão", fazia igual uma hélice. Mas ela não gostava do apelido. Dizia: 'O meu nome é Elis Regina'", recorda o cantor Jair Rodrigues.

No mesmo ano, gravou o álbum "Dois na Bossa" em parceria com Jair. Ao lado do sambista, também apresentou o programa "O Fino da Bossa", que estreou na TV Record, em 1965, como referência da melhor música brasileira da época. "Éramos grandes amigos dentro e fora dos palcos. Jair Rodrigues e Elis Regina eram o mesmo que juntar a fome com a vontade de comer", diz o músico. E completa: "Antes ou depois do programa saíamos com outros artistas, jogávamos conversa fora, bebíamos ou tomávamos café. Era uma alegria total". A carreira solo de Elis então decolou.

Marcos como a interpretação antológica da música "Atrás da Porta" e a parceria com Tom Jobim no clássico disco "Elis & Tom" (1974) despertaram o reconhecimento de vários músicos. Exemplo é Björk, da Islândia, que certa vez disse a Bôscoli: "Não teria jamais coragem de ir emocionalmente até onde Elis ia. Temo não conseguir voltar".

Apelidada de Pimentinha por Vinicius de Moraes, Elis possuía mais coragem do que a média das pessoas para dizer tudo o que passava pela cabeça. Ela criticava o regime militar já na fase pós-AI-5, promulgado em 1968. Referia-se aos militares como 'gorilas' da ditadura.

VIVA ELIS - Três décadas após a sua morte, a intérprete terá o legado revisto com o projeto "Viva Elis", que prevê para o segundo semestre turnê de Maria Rita interpretando, pela primeira vez, sucessos consagrados na voz da mãe e exposição multimídia itinerante pelo Brasil, além de documentário e livro baseados na trajetória. "A proposta é apresentar a obra de Elis para as novas gerações e, para quem já conhece, oferecer algo que nunca tenham visto. Contamos com a força de seu canto e seu carisma para encantar as pessoas, assim como aconteceu durante a sua trajetória", adianta Bôscoli.

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