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terça-feira, 17 de janeiro de 2012

O samba e suas histórias: Portela, a majestade do samba.

Portela


História

Na primeira etapa da história da Portela, Paulo Benjamin de Oliveira foi quem conduziu os destinos da Escola, auxiliado por seus companheiros de samba, sendo os mais chegados Antônio Caetano e Antônio Rufino.

Em torno de sua liderança outros bambas se faziam presente como Manuel Gonçalves dos Santos (Manuel Bam Bam Bam), Ernâni Alvarenga, Alcides Dias Lopes (Alcides, malandro histórico), Nélson Amorim, João da Gente, Chico Santana, Alberto Lonato, Cláudio Bernardes, Osvaldo dos Santos (Alvaiade), …

Natal conduziu a segunda etapa da história da Portela, rica em acontecimentos, foi o responsável por uma odisséia da Escola azul e branco na evolução das Escolas de Samba do Rio de Janeiro.
Oswaldo Cruz, subúrbio da Central do Brasil, na década de 20 ainda cheirava a roça, com imensas chácaras em meio a ruas de barro com valões, por onde pessoas transitavam entre vacarias e currais, a pé ou a cavalo. O bairro era uma espécie de cidade do interior, atrasado, habitado por pessoas humildes que moravam em cortiços, e operários que, de madrugada, apanhavam o trem para deslocar-se até seu trabalho. Quase que uma cidadezinha-dormitório do Rio de Janeiro.
Originário da freguesia de Irajá, um espaço rural extenso que no século XVI resultaria em vários bairros – entre eles, além de Oswaldo Cruz, Bento Ribeiro, Marechal Hermes e Madureira, e também Penha, Irajá e Campinho – Oswaldo Cruz surgiu da Fazenda do Portela, terras pertencentes ao português Miguel Gonçalves Portela, o velho, dono de um engenho de cana de açúcar (Engenho do Portela, localizado no vale do rio das pedras).
As terras do Portela ficavam vizinhas às propriedades de Lourenço Madureira, que posteriormente se transformaram no bairro Madureira. No dia 17 de abril de 1898 foi inaugurada a Estação de Rio das Pedras, que em 1904 ganhou o nome de Oswaldo Cruz – homenagem do prefeito Pereira Passos ao grande sanitarista que exterminou a febre amarela no Rio de Janeiro.
Do lado esquerdo da estação de Oswaldo Cruz, para quem vem da Central do Brasil, existia um matagal que servia de pasto para o gado que desembarcava ali e se dirigia para o matadouro da Penha.
Originalmente, os habitantes de Oswaldo Cruz eram negros vindos do Congo e de Angola, que com seus hábitos, costumes e culturas preparavam o terreno para o surgimento das Escolas de Samba.
A partir da década de 20, Oswaldo Cruz começou a receber também pessoas da classe média em busca de habitações mais baratas, entre elas as famílias de D. Ester Maria de Jesus, de Napoleão José do Nascimento e de Paulo Benjamin de Oliveira. Estas famílias formariam o núcleo que originou a Portela.






D. Ester Maria de Jesus e Paulo Benjamin de Oliveira





D. Ester Maria de Jesus, para outros Ester Maria de Rodrigues, veio de Madureira com seu marido Euzébio Rocha. Eles saíam no Cordão Estrela Solitária, de baliza e porta-estandarte.
Ao chegarem a Oswaldo Cruz, foram morar inicialmente na rua Joaquim Teixeira, quando fundaram o bloco Quem Fala de Nós Come Mosca, tendo posteriormente se mudado definitivamente para um casarão rua Adelaide Badajós, que ocupava um quarteirão e logo se transformaria numa casa de festas.
» Dona Ester
As festas de D. Ester eram famosas e duravam dias. Vinha gente da cidade inteira, políticos, artistas e sambistas do Estácio.
A casa era uma espécie de casa da Tia Ciata, onde o samba corria solto nos fundos. D. Ester, por ter bom relacionamento com os políticos, tinha o seu bloco legalizado, com alvará e licença para não ser importunado pela polícia – que na época perseguia o samba. O Quem Fala de Nós Come Mosca só desfilava em Oswaldo Cruz durante o dia, e era quase que exclusivamente formado por crianças.
A família Napoleão José do Nascimento saiu de Queluz, em São Paulo, no início do século XX e veio morar no Rio de Janeiro, no Lins de Vasconcelos, num lugar chamado Cachoeira Grande. Em fins da década de 10, foi para Oswaldo Cruz, numa chácara na Estrada do Portela.
Da Saúde, na década de 20, saiu a família de Paulo Benjamin de Oliveira – que foi morar no 338 da Estrada do Portela, numa viela chamada Barra Funda.
De um modo geral, os moradores de Oswaldo Cruz não tinham onde se divertir. Por isso era comum se reunirem na casa de amigos para dançar o jongo e o caxambu, ou participarem de cerimônias religiosas ligadas ao candomblé.
Antônio da Silva Caetano era desenhista da Escola Naval. Vivia em Oswaldo Cruz, embora não morasse lá: namorava uma moradora do bairro chamada Diva. Além de desenhista, Caetano era músico e tocava violão, saxofone e piston. Nasceu em 10 de setembro de 1900.


Antônio Caetano
Antônio Rufino dos Reis era mineiro, de Juiz de Fora. Veio Morar em Oswaldo Cruz em 1920, com 13 anos de idade. Era um exímio jongueiro. Tocava sanfona e morava na Barra Funda.






Antônio Rufino dos Reis





Quando Paulo Benjamin de Oliveira chegou a Oswaldo Cruz tinha 20 anos e trabalhava na fábrica de bilhar Lamas. Era lustrador. Costumava freqüentar as rodas de samba no Estácio e via seus amigos sambistas serem perseguidos pela polícia. Por isso defendia que se organizasse uma estratégia para combater essa injustiça, afinal de contas, eles não eram marginais conforme procuravam caracterizá-los.
Para se ligar às pessoas que gostavam de samba, fundou o bloco Ouro Sobre Azul quando chegou ao bairro. Percebeu imediatamente que estava numa região altamente musical, pois muitos de seus moradores tinham dons artísticos natos.
Em Oswaldo Cruz, em 1922, adultos ligados ao samba se reuniam num bloco carnavalesco chamado Baianinhas de Oswaldo Cruz, no qual desciam para se apresentarem na cidade. Esse bloco era dirigido pelo Sr. Galdino, e tinha como ponto de encontro a esquina da Estrada do Portela com a rua Joaquim Teixeira.
Quando eles iam para a cidade, pediam emprestada a licença do Come Mosca de D. Ester.
Paulo se responsabilizava – e por isso D. Ester emprestava a licença. Entretanto, o pessoal de Oswaldo Cruz era brigão e quase sempre saía arruaça quando se encontrava com outras agremiações na cidade.
D. Ester soube do fato e reclamou com Paulo, pois estavam dizendo que era o Come Mosca o responsável pelas arruaças (o nome Baianinhas de Oswaldo Cruz não aparecia) – e não quis mais emprestar a licença.
Paulo reuniu então a rapaziada e foi incisivo: “Não é possível manter mais esta situação. Vamos extinguir o Baianinhas e fundar um outro bloco. Um que seja realmente representativo de Oswaldo Cruz”.
Para ajudá-lo, procurou seu amigo Natalino, que era mais do futebol, sendo o principal jogador do clube chamado Portela, e pediu que ele conversasse com seu pai, Napoleão, para deixar que eles fundassem um novo bloco para tirar a má fama do Baianinhas. A razão do pedido era porque a turma do samba costumava se reunir ali, embaixo de uma mangueira, para tirar sambas.
Natal foi falar com seu pai, que só fez uma exigência ao saber que Paulo, seu sobrinho por afeição, estava à frente da nova agremiação: “Podem se reunir, mas deixem passar a quaresma”. E acrescentou: “Temos de respeitar a religião”.
Assim, numa quarta-feira, dia 11 de abril de 1923, depois do Domingo de Páscoa, foi fundado o bloco carnavalesco Conjunto de Oswaldo Cruz.
Natal estava presente, mesmo dizendo que era mais de futebol do que de samba, a convite de Paulo que argumentava: “Samba e futebol são a mesma coisa”.
Na verdade, à época havia uma integração muito forte do samba com o futebol. O clube de futebol Portela ficava no mesmo lugar onde o pessoal do samba se reunia. O samba só começava depois dos jogos.
No início da década de 30, os torneios de futebol aconteciam durante o Carnaval. O Portela chegou a disputar com o campeão Fluminense uma partida e perdeu.
O Conjunto de Oswaldo Cruz foi fundado sob os conceitos de Paulo Benjamin de Oliveira: evitar os confrontos nas ruas. Os principais dirigentes estavam sempre impecavelmente vestidos, para adquirirem boa imagem junto ao público.
Paulo, Caetano, Rufino e Álvaro Sales andavam de terno branco, sapato tipo carrapeta, gravata e chapéu de palha, além de trazerem nos dedos anéis de prata gravados a ouro com as iniciais AC, AR, PO e AS, simbolizando anéis de grau. Afinal, eles eram “formados” em samba.
Em 1926 foi organizada a primeira junta governativa com a seguinte constituição:
» Presidente – Paulo Benjamin de Oliveira
» Secretário – Antônio da Silva Caetano
» Tesoureiro – Antônio Rufino dos Santos
Inicialmente, o Conjunto de Oswaldo Cruz se reunia na casa de Paulo Benjamin de Oliveira, na Barra Funda. Depois, foram para o 412 da Estrada do Portela, numa dependência do armazém do Sr. Sérgio Hermogenes Alves, um português que gostava muito de samba e cedia o espaço a troco deles tocarem à frente de seu estabelecimento para chamar a freguesia.
Para também colaborar com as finanças do Conjunto, uma pessoa chamada Antônio Portugal, o Antônio do Boi, saía segurando uma pessoa fantasiada de boi, fingindo que levava chifradas, para pedir dinheiro em um pires.
Dias após a fundação do bloco, Paulo cuidou do batismo.
Procurou D. Martinha, baiana ligada ao candomblé, e declarou padroeiros Nossa Senhora da Conceição e São Sebastião. D. Martinha foi a madrinha.

Quando Heitor ganhou o concurso e voltou para casa, assumiu o Conjunto de Oswaldo Cruz e sua primeira providência foi trocar o nome para Quem Nos Faz É o Capricho. Como também era dado à arte de desenhar (tendo mais tarde se transformado num consagrado pintor), desenhou um novo símbolo para a bandeira: um sol acoplado a uma meia-lua. Só que só tinha um lado, como se fosse um estandarte, e não uma bandeira de Escola de Samba.

Apesar de Antônio Caetano não ter concordado, D. Diva, sua esposa, confeccionou a nova bandeira.

Paulo deu toda cobertura a Heitor, mas Antônio Rufino e Manuel Bam Bam Bam se colocaram contra o domínio de Heitor dos Prazeres na Escola.

Em 1930 a Escola desceu com o nome de Quem Nos Faz É O Capricho, e realizou algumas apresentações, mas não houve concurso.

Após o Carnaval, Manuel Bam Bam Bam e Antônio Rufino, os principais adversários de Heitor dos Prazeres, retornaram à direção da Escola e mudaram seu nome para Vai Como Pode.

Testemunhas contam que os dois estavam sentados à procura de um novo nome quando Manuel Bam Bam Bam exclamou: “Vai como pode”.

A bandeira da Vai Como Pode voltou a ser desenhada por Antônio Caetano.

No dia 1º de maio de 1934, ao receber os dirigentes da Vai Como Pode que pretendiam renovar a licença de funcionamento, o delegado Dulcídio Gonçalves fez uma proposta inesperada: a mudança do nome da escola. Alegou que não ficava bem uma grande escola de samba ostentar um nome tão chulo como Vai Como Pode. Paulo da Portela, embora nunca fosse chamado de Paulo da Vai Como Pode, tentou defender o antigo nome, segundo ele, sugerido pela própria polícia. O delegado, porém, sustentou que não renovaria a licença de nenhuma escola chamada Vai Como Pode. E sugeriu um nome que, segundo ele, tinha a pompa adequada para uma escola de samba daquele nível: Grêmio Recreativo Escola de Samba Portela. Diante das circunstâncias, a proposta foi aceita.

Com o enredo “O Samba Dominando o Mundo”, a antiga Vai como Pode, agora Portela, entrou para a história como vencedora do primeiro desfile oficial do Rio, em 1935.

A Portela contribuiu de várias maneiras para o carnaval carioca neste período. Foi a primeira escola que usou alegoria, e introduziu também a caixa-surda, o reco-reco, a comissão de frente uniformizada, o destaque e o apito da bateria.




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