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sábado, 2 de abril de 2011

A polêmica que não acaba!

Caetano defende Bethânia


      Caetano: “Foram me chamar, eu estou aqui, o que é que há?”
E segue sem data para terminar a polêmica em torno do blog de poesia de Maria Bethânia. No domingo (27.03), Caetano Veloso usou sua coluna no jornal O GLOBO para defender a honra da irmã. E o fez atacando. “Foram me chamar, eu estou aqui, o que é que há?”, bradou, citando a música que “Dona Ivone Lara fez para Bethânia e seus irmãos baianos”. Caetano mandou brasa nos veículos de comunicação: a Veja foi acusada de “aderir ao linchamento de Bethânia”e fazer “jornalismo com o fígado”. O baiano também atacou a Folha de São Paulo, que “disparou, maliciosamente, o caso”. Em particular, usou de um subterfúgio da imprensa e sugeriu um affair entre os jornalistas Monica Bérgamo e Ricardo Noblat – ambos disseminadores veementes do assunto. Disse o artista: “A ‘Veja’ logo pôs que Bethânia tinha ganho R$ 1,3 milhão quando sabe-se que a equipe que a aconselhou a estender à internet o trabalho que vem fazendo apenas conseguiu aprovação do MinC para tentar captar, tendo esse valor como teto. Os editores da revista e do jornal sabem que estão enganando os leitores. E estimulando os internautas a darem vazão à mescla de rancor, ignorância e vontade de aparecer que domina grande parte dos que vivem grudados à rede.”
Caetano foi além e fez um paralelo entre o episódio envolvendo sua irmã e o que chamou de “ridícula campanha contra Chico ter ganho o prêmio de Livro do Ano” (o Jabuti 2010), quando parte da imprensa e da inteligentsia atacou o Leite Derramado de Buarque e enalteceu Edney Silvestre e o seu E Se Eu Fechar meus Olhos. “Bethânia e Chico não foram alvejados por sua inépcia, mas por sua capacidade criativa. (…) O que me vem à mente, em ambas as situações, é a desaforada frase obra-prima de Nietzsche: ‘É preciso defender os fortes contra os fracos’”, escreveu, atacando ainda o que enxerga como “misto de ressentimento, demagogia e racismo contra baianos (medo da Bahia?)”. E seguiu no ataque, agora à classe: “O projeto que envolve o nome de Bethânia (que consistiria numa série de 365 filmes curtos com ela declamando muito do que há de bom na poesia de língua portuguesa, dirigidos por Andrucha Waddington), recebeu permissão para captar menos do que os futuros projetos de Marisa Monte, Zizi Possi, Erasmo Carlos ou Maria Rita. Isso para só falar de nomes conhecidos. Há muitos que desconheço e que podem captar altíssimo. (…)Por que escolher Bethânia para bode expiatório? Por que, dentre todos os nossos colegas (autorizados ou não a captar o que quer que seja), ninguém levanta a voz para defendê-la veementemente? Não há coragem? Não há capacidade de indignação?”
Fato é que, como explicou o irmão, “Os planos de Bethânia incluíam chegar a escolas públicas e dizer poemas em favelas e periferias das cidades brasileiras. Aceitou o convite feito por Hermano como uma ampliação desse trabalho”. O projeto é lindo e é uma pena que, depois deste imbróglio, esteja comprometido. Seja lá você fã ou não de Bethânia, o que vem ao caso é a valorização de uma expressão muito pouco respeitada. A poesia anda cada vez mais escondida, enquanto linguagens mais pirotécnicas roubam a cena. É natural, é justo… Mas é também salutar que se proteja este legado – e poucas vozes da língua portuguesa são tão adequadas para esta tarefa quanto a de Bethânia, que passou a vida declamando.
Está na lei: o artista pode se valer da Rouanet para tornar mais fácil a captação de verbas para seus projetos. Se Bethânia é cidadã como todos os outros, por que não poderia? Querem mudar os critérios? Ok, vamos à discussão. Quem é que poderá se valer da lei? Questões que caberão à ministra Ana de Hollanda, que assumiu, pelo visto, um dos mais explosivos ministérios da esplanada.
Só uma coisa: que se respeite Bethânia. Como bem disse Caetano, “Maria Bethânia tem sido honrada em sua vida pública. Não há nada que justifique a apressada acusação de interesses escusos lançada contra ela. Todos sabem que Bethânia não levou R$ 1,3 milhão”. É bom que se explique que fazer internet não é tão barato como se imagina. Muito menos criar conteúdo audiovisual de qualidade para a rede. É preciso ponderar, com o cuidado de evitar julgamentos sem consistência.

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